terça-feira, 15 de setembro de 2009

Capítulo 2: Uma noite entre tantas

Despertou de repente, no escuro, o coração pulando, sem entender o porquê. Transpirava, consequência do calor abafado daquele lugar e do sonho de que não se lembrava, ainda que tentasse. A janela aberta, tentativa vã de refrescar o quarto, deixava uma claridade pálida entrar, claridade que lhe chamou a atenção naquele torpor típico dos recém-acordados. Levantou-se, indo descalço até a janela. Olhando para o céu quase involuntariamente, pegou-se admirando aquele manto estrelado, com o qual já se acostumara desde a infância, podendo até mesmo fechar os olhos e adivinhar a posição de cada estrela, que ela estaria lá, no exato lugar que ele pensara.

Um grande bocejo acometeu-lhe, fazendo lembrar que ainda tinha sono, era alta a madrugada. E grande o calor. Voltou os olhos para o velho ventilador com o qual já interagira no começo da noite e só de lembrar do barulho de carroça desregulada que ele fazia, convenceu a si mesmo de que o calor era suportável. Buscou no fundo de sua memória ainda sonolenta lembranças da infância, em que se recordava do ventilador, fazendo um barulho de carroça normal, ao qual ele chegava até mesmo a gostar, sendo esse som melodia para o seu adormecer em várias noites.

Tudo ali lhe era muito familiar, aquela fora sua casa desde sempre e pode-se dizer realmente que a única coisa que parecia ter aumentado com o passar dos anos era o calor na cidadezinha. Voltando para a cama na penumbra no quarto, deu um encontrão com o criado-mudo, derrubando algo que produziu um ruído metálico, fazendo um calor subir-lhe pela espinha por lembrar-se da sensação do sonho que tivera havia pouco. Tateando no escuro acendeu a luz, e viu tratar-se das chaves de casa.

Apagando tudo novamente, deitou-se e, olhando para o teto, ficou pensando no ruído, na sensação do sonho, e se adormecendo, poderia sonhá-lo novamente e se saberia que era aquele sonho. Dormiu, antes de chegar a uma conclusão.

domingo, 13 de setembro de 2009

Capítulo 1: A primeira noite

Lutei contra o calor a noite toda, por volta das 3:00 da manhã desisti, desci até a cozinha para tomar um pouco d'água. Até mesmo andar naquela casa me deixava insegura, tudo era muito estranho... Abri o armário de cedro comido por cupins, apanhei um copo e também a garrafa de água na geladeira praticamente vazia onde tinha apenas algumas garrafas de água, vinagre, um refrigerante barato (do qual nunca tinha ouvido falar antes), alguns ovos, manteiga e alguns outros potinhos que não consegui identificar naquele momento.
Peguei minha água e sentei na soleira da porta que dava para os fundos, de lá podia ver o céu limpo e estrelado, fiquei por alguns instantes tentando encontrar as estrelas que eu conhecia na verdade esperava um sopro de vento para amenizar o calor absurdo que fazia naquele lugar. O sopro não apareceu e das estrelas que vi, reconheci apenas o Cruzeiro do sul e as Três Marias...Desisti das estrelas, coloquei o copo na pia e subi lentamente cada degrau da escada de ardósia enquanto tentava memorizar e me acostumar com aquele novo lugar e aquele calor.
Passei pelo estreito e escuro corredor com muito cuidado, não queria acordar ninguém, a cada porta fechada que passava ouvia coisas diferentes, na primeira porta conseguia ouvir o barulho da televisão que já estava fora do ar, na porta ao lado ouvia a voz aguda e meiga de uma menina, ao que pareceu falando ao telefone, na porta da frente nada se ouvia, questionei até mesmo se o dono daquele quarto estava mesmo lá dentro, alguns metros depois do quarto silencioso estava o meu mais novo quarto; Entrei, acendi a luz e fechei a porta, passei algum tempo encostada na porta fechada observando cada pedacinho daquele novo lugar, a escrivaninha de mogno, a cômoda ainda vazia, a cama de solteiro e o colchão de molas absurdamente barulhento. Sentei na cama e daquele ângulo tive a vista mais bonita desde que chegara na cidade, através da janela aberta, conseguia ver a lua... Fiquei deslumbrada. Adoro a lua, ainda mais a lua cheia, peguei a pedra do meu pescoço e coloquei no peitoril da janela, para que fosse recarregada com energias lunares. Apaguei a luz, e deitei na cama, tentando encontrar uma posição confortável, não estava sendo nada fácil me acostumar com esse lugar, tudo novo, primeira noite, e eu já sinto saudades de casa. Encontrei uma posição até que confortável e mesmo deitada ainda conseguia contemplar o maravilhoso céu... Uma coisa era fato, essa cidade tinha o céu mais bonito que eu já vira.
Em uma fração de segundos estava em um lugar muito claro, muito tranquilo mas que ao mesmo tempo arrepiava cada pelo do meu corpo, olhava atenta na tentativa frustrada de entender o que estava acontecendo, a sensação de arrepio foi ficando mais intensa e o fato de que estava realmente gostando daquela sensação me deixou mais apreensiva, perguntei:
- Tem alguém aqui?
Naquela sala iluminada, nínguem me respondeu... Porém, ao longe conseguia ouvir alguns sussurros...Tentei seguir o ruído, talvez ele me conduzisse para algum lugar, andei o que me pareceu dias e então encontrei uma porta, eu ia abrir, estava muito perto, os sussurros estavam cada vez mais altos... Até que ouvi algo de metal caindo no chão, e acordei... Havia derrubado o porta jóias que minha avó me dera no meu aniversário de 15 anos, adormeci tão repentinamente que me esqueci que ele ainda estava na minha cama... Olhei para a janela, o brilho ofuscou meus olhos, nossa, o dia estava alto, o sol brilhava intensamente e ao fundo ouvia-se os passáros cantando...